Na literatura, gênero ancestral, os povos imprimiram as imagens míticas que, ao longo dos séculos, permaneceram vinculadas à fé e ao ponto de vista de cada um. As histórias mitológicas evoluíram lado a lado com a filosofia e a expressão linguística, retratando a vida das divindades, dos protagonistas heróicos e de nossos ancestrais, enfim, dos modelos que habitam os arquétipos humanos.
Aos poucos, porém, com o desenvolvimento das civilizações e do pensamento científico, o sagrado perdeu sua importância central na história da humanidade; mas foi justamente nos relatos literários que ele sobreviveu, alimentando as tradições populares, se metamorfoseando, mudando de endereço, adaptando-se a novas formas e identidades.
Desta forma surgiram as narrativas conhecidas como contos de fadas, histórias maravilhosas ou folclóricas. Na análise destas modalidades é possível encontrar os elementos míticos básicos, mesmo que, agora, eles não mais revelem sua essência sacralizada.
A expressão ‘fantástico’ provém do latim ‘phantasticus’, termo que, na verdade, procede do grego ‘phantastikós’; os dois vocábulos têm o sentido de ‘fantasia’. Pode-se então definir a literatura fantástica como a narrativa que é elaborada pelo imaginário, por uma dimensão supostamente inexistente na realidade convencional.
Isto porque a literatura, por mais que se tente alicerçá-la no mundo concreto, ela sempre alça vôo e se aproxima muito mais da imaginação e da ficção. O gênero fantástico está povoado de ingredientes improváveis, fantasiosos e atualmente desvinculados do cotidiano humano. Esta categoria narrativa está inevitavelmente associada aos acontecimentos maravilhosos, na opinião do escritor argentino Jorge Luis Borges.
Embora os mitos, histórias folclóricas e contos de fadas sejam os elementos básicos da literatura fantástica, muitos englobam nesta modalidade as narrativas góticas, os relatos de terror, a ficção científica e os enredos que contenham doses de fantasia. Ainda inclusos neste gênero estão os sub-gêneros denominados RPGs – Role-Playing Games, jogos que envolvem encenações, nas quais cada participante interpreta um determinado papel, tendo como cenários esferas ligadas ao mundo da imaginação.
A Literatura Fantástica revela-se no Classicismo, tanto nas expressões Líricas quanto nas criações Épicas. Durante a Idade Média as concepções cristãs e pagãs se defrontam também nas canções e na poesia dos trovadores. Nesta época surgem igualmente os ‘romances viejos’, os quais derivariam para a literatura cortês e as novelas de cavalaria.
Nestas obras medievais é possível encontrar sem maiores dificuldades os famosos ingredientes do fantástico – seres heróicos, bruxos, aparições, animais fabulosos, objetos ligados à magia, criaturas elementais, conectados aos quatro elementos: as ninfas, silfos, elfos, goblins, duendes, gnomos, os quais habitam o ar, a água, a terra ou o fogo.
Fantasia
Segundo a definição do iDicionário Aulete, fantasia, enquanto gênero, significa “obra artística (livro, pintura etc.) sem ligação com a realidade”. Quando relacionada ao mundo das artes, a fantasia é considerada um gênero que faz uso da magia e de outros elementos sobrenaturais como peças importantes que permeiam uma obra. A fantasia distingue-se da ficção científica e do horror de três formas: temática individual do autor, atmosfera criada e aspecto geral.
Apesar disso, existe uma grande sobreposição que ocorre com a junção do horror, da fantasia e da ficção científica. Este fenômeno é chamado de ficção especulativa. A fantasia é encontrada em obras de diversos tipos como quadros, filmes, romances, contos, músicas ou histórias em quadrinhos. Ela pode ser encontrada desde a época dos mitos e das lendas até as obras contemporâneas, em que ocorre a mistura de diversos tipos de elementos fantásticos.
Na literatura fantástica, da mesma forma que ocorre na ficção especulativa, o universo criado ou os personagens diferem da realidade. Na maioria dos trabalhos, a fuga da realidade é, geralmente, explicada por intervenções de divindades, magia, forças ocultas ou sobrenaturais.
Uma das correntes que certamente beberam das características da fantasia foi o Realismo Mágico, escola literária latino-americana. Nesta vertente, o universo fantástico funde-se com a realidade. Elementos irreais ou bizarros são apresentados como corriqueiros e habituais. Ao contrário da fantasia, em que o fantástico busca uma explicação, o Realismo Mágico insere elementos inexistentes sem a menor explicação e de forma intuitiva.
Outra característica marcante do gênero fantasia é que o elemento fantástico não necessita de uma explicação científica ou tecnológica, podendo ser justificado por magia ou qualquer outro fenômeno fora da normalidade. Apesar de bastante aceito entre fãs e estudiosos do gênero, este argumento não é universal. Um exemplo que quebra esta regra são as histórias infantis, que, apesar de possuírem todos os elementos da fantasia, são consideradas em gêneros como fábulas, entre outros.
De acordo com Roger Caillois, sociólogo e crítico literário francês, o fantástico “manifesta um escândalo, uma ruptura, uma irrupção insólita, quase insuportável, no mundo real”, que desencadeia “uma desordem nova, um pânico desconhecido”, do qual resulta não possuir “sentido num universo maravilhoso, no qual seria mesmo inconcebível”. Já na opinião de Tzvetan Todorov, filósofo e linguista búlgaro, “o fantástico é a hesitação experimentada por uma criatura que não conhece senão as leis naturais, perante um acontecimento com aparência de sobrenatural”.
Fontes: http://www.infoescola.com/generos-literarios/literatura-fantastica/
http://www.infoescola.com/literatura/fantasia-genero/
Fantasia: Subgêneros
Alternate World: Envolvem mundos diferentes escondidos dentro ou em paralelo ao nosso. Antigamente, quando o planeta ainda não era totalmente mapeado, era possível encontrar histórias de terras misteriosas como no livro de Johnathan Swift, As Viagens de Gulliver. Depois, quando já tínhamos uma ideia mais concreta dos continentes, Lewis Carroll criou um mundo dentro de um espelho em Alice Através do Espelho.
Arhurian: são histórias contadas no mundo do Rei Artur, na lendária Camelot. Exemplos famosos são A Espada na Pedra, de T.H. White, e a saga As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley.
Bangsian: é relativa principalmente a um autor do século 19, John Bangs, e lida basicamente com histórias sobre o além-vida.
Celtic: é criada a partir do vasto conhecimento dos celtas, vindos principalmente, mas não somente, da Irlanda. Como exemplo a série Sevenwaters de Juliet Marillier.
Christian: costuma ser um subgênero mais raro, em parte porque muitos “crentes” oficialmente intimidam toda a questão da fantasia, assim como os especialistas do gênero também o evitam. Muitas novelas de C.S. Lewis poderiam entrar nesta classificação.
Comedic: é um subgênero relacionado ao humou e/ou à sátira. Os livros de Terry Pratchett da série Discworld são um bom exemplo.
Contemporary: aqui as criaturas mágicas estão escondidas entre nós. Essas histórias são desenvolvidas nos tempos atuais, com situações estranhamente familiares. Os livros de Neil Gaiman, Deuses Americanos e Lugar Nenhum dão uma ideia do que é Contemporary Fantasy.
Court Intrigue: é um subgênero definido pelas histórias que acontecem em castelos da realeza, com algum viés histórico (mas com magia), ou em algum mundo alternativo. A série de George R.R. Martin, As Crônicas de Gelo e Fogo, é um bom exemplo do estilo.
Dark: suas histórias costumam se interligar e sobrepor com horror ou até mesmo com uma atmosfera mais gótica.
Dying Earth: é um pouco literal, e as histórias se desenvolvem no cenário do fim/destruição do planeta. Normalmente a humanidade é cercada por tédio e certa descrença, enquanto o mundo se desfaz. Apesar de a narrativa de George R.R. Martin em A Morte da Luz não se passar necessariamente na Terra, ela aborda o tema do fim de um planeta.
Erotic: como o nome diz, os livros contém um forte elemento sexual. Apesar de a série Trilogia das Jóias Negras, de Anne Bishop, ter uma forte aproximação com o estilo Dark, ela também poderia entrar nesta categoria.
Heroic: é centrada em um herói conquistador, ou um “bando” de heróis; ainda que eventualmente o esteriótipo do gênero heróico seja desenvolvido com vilões perdoáveis e protagonistas falhos.
High ou Epic: é considerada por muito leitores o coração e a essência do gênero de Fantasia. Mundos inteiros são criados, com longas histórias e estilos de vidas vívidos, além de uma longa lista de personagens. O Senhor do Anéis, obra máxima de Tolkien, domina completamente este subgênero. Outro bom exemplo é a série A Roda do Tempo, de Robert Jordan.
Historical Fantasy: é a resposta do gênero para a ficção histórica. Um período específico da história da Terra se torna o cenário, mas com elementos fantásticos misturados. Um bom exemplo é a série de Guy Gavriel Kay, Tigana.
Historical High Fantasy: é uma variação do subgênero Historical, em que as histórias são vastas e tão detalhadas que se assemelham à High Fantasy.
Juvenile: é uma categoria abrangente, que se sobrepõem com os gêneros Infantil e Young Adult, em que as histórias são escritas para uma audiência mais jovem. O Hobbit, de Tolkien, e O Mágico de Oz de L. Frank Baum são exemplos perfeitos.
Low Fantasy: também é uma categoria abrangente e descritiva. Suas histórias são escritas sem as paisagens arrebatadoras e o heroísmo mais sério em uma clara oposição, talvez não necessariamente consciente, do subgênero High Fantasy. Alguns ligam o estilo ao subgênero Sword & Sorcery. Em outra definição, Low Fantasy é visto como histórias que se passam em um cenário mais comum, com menos magia.
Medieval: é definida por seu nome, e é um subgênero em que as histórias são desenvolvidas neste período, entre o “arcaico” ou o mundo Arturiano e a era industrial moderna. Elas são repletas de cavaleiros e patifes, normalmente junto com feiticeiros e dragões. Muitos dos subgêneros de Fantasia, ambientados na Terra ou em qualquer outro mundo, possuem uma sensação “pseudomedieval”, com a descrição do cenário ou das vestimentas.
Mythic: é uma vasta categoria. Em geral as histórias são desenvolvidas em “nossa” Terra e incorporadas com mitos existentes. Os Filhos de Anansi, de Neil Gaiman, e toda a série de Percy Jackson, de Rick Riordan são ótimos exemplos deste estilo.
Quest: envolvem somente a realização de uma missão. É uma categoria descritiva, em que o protagonista está envolvido em alguma missão perigosa e envolvente. O livro A Primeira Regra do Mago, de Terry Goodkind é um bom exemplo desse tipo de subgênero.
Romantic: é a incorporação dos temas que normalmente envolvem os gêneros Fantasia e Romance, normalmente são comercializados como “romance paranormal”.
Science Fantasy: é um subgênero onde a alta tecnologia costuma se sobrepor ou coincidir com elementes comuns à fantasia tradicional. A série Darkover, de Marion Zimmer Bradley é um exemplo.
Steampunk: assim como o Science Fantasy, é um estilo que incorpora elementos tecnológicos com fantasia. A questão aqui é que a tecnologia é normalmente movida a vapor e pode ser capaz de feitos fantásticos, quase mágicos. O livro A Corte do Ar, de Stephen Hunt, é um exemplo icônico. Alma?, de Gail Carriger, também possui elementos steampunks na história.
Superhero: seja em filmes, quadrinhos ou em livros, personagens como Superman e Thor são familiares para muitos leitores. Alguns autores costumam criar seus próprios super-heróis, incorporando esteriótipos conhecidos. Os protagonistas podem receber suas habilidades especiais de magia, tecnologia ou qualquer outro artifício, e usualmente eles excedem qualquer coisa que a ciência acha plausível.
Sword & Sorcery: as histórias são incorporam o aspecto de ação ininterrupta relacionado com a fantasia, com “poderosos bárbaros” atravessando um campo sangrento em seus mundos “pseudomedievais”. Os livros de Robert E. Howard que contam as histórias de Conan, O Bárbaro são, talvez, os tomos fundadores do gênero.
Urban Fantasy: essas histórias são ambientados em um cenário moderno e urbano. Lobisomens vivem em estações abandonadas do metrô, ou fadas se escondem em pequenos espaços nos domitórios dos campus de faculdade. Os livros da série Sookie Stackhouse, de Charlaine Harris, são bons exemplos do estilo.
Vampire: originalmente este subgênero pertencia a categoria de horror, e muitos livros ainda se encaixam lá. Entretanto, muito livros recentes foram sobrepostos com os gêneros Romance e Young Adult, e suas histórias talvez se encaixem melhor na “seção” de Fantasia. Em geral, cada autor cria suas regras sobre o estilo de vida dos vampiros, suas habilidades e fraquezas. Exemplos icônicos do gênero são os livros Drácula, de Bram Stoker, e O Vampiro Lestat, de Anne Rice.
Fonte: http://www.parafraseandolivros.com.br/2014/10/semana-fantastica-id-subgeneros-de-fantasia/
Em breve informações dos outros gêneros da literatura fantástica: Ficção Científica e Terror... Abraços ;)
Muito bom! Informações claras e interessantes.
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